Um brinde aos aventureiros

Há um título de um livro do António Lobo Antunes que é "Que farei quando tudo arde?"; não nos foquemos no romance do livro mas no título, que foi retirado de um soneto do Sá de Miranda.
"Que farei quando tudo arde?":  depois de ter visto ontem o Joaquim Rodrigues a atirar-se duna abaixo - e as imagens que hoje deram, em slow motion e com a absorção da pancada -, hoje foi a vez do Mello Breyner e do Velosa desistirem, no Yamaha.
 "Que farei quando tudo arde?". Não sei. Por vezes sinto raiva, outras falta de vontade de escrever. Ranjo os dentes, o estômago reage e os olhos também.
Há meses, em Marrocos, eu e o Valter tivemos a nossa dose de aventura... e de sorte. Naquela casquinha, subir e descer uma duna é, por vezes, mais penoso que uma prova inteira do nacional; com a assistência médica a dezenas de quilometros.
Arrisquei, bem sei. E hoje ao ver imagens das dunas arrepio-me, fico com medo. E fazia tudo de novo, como tenho a certeza que o Paulo, o Mário, o Quim, o Pedro, o Velosa, também irão fazer.
Por mais espectacular que esteja a ser a prova das motos, com uma luta ao segundo entre Honda, Yamaha e KTM, com os 10 primeiros separados por apenas 6 minutos, por mais belas que sejam as imagens dos Peugeot e dos Toyota a levantarem areia, não consigo olhar para a prova sem pensar nos que já desistiram.
Hoje não. Amanhã talvez.


Comentários